segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

CAMPANHA PARA A EVANGELIZAÇÃO 2012

Lema: “EU VI E DOU TESTEMUNHO: ELE É O FILHO DE DEUS” (Jo 1, 34).

Introdução
A Campanha para a Evangelização é uma iniciativa da CNBB que acontece todos os anos durante o tempo do Advento. Para que possamos entender melhor esta iniciativa da Igreja Católica e participarmos dela com maior consciência, precisamos conhecer um pouco melhor este tempo litúrgico.
O ano litúrgico
Todos sabemos que existem diferenças entre o calendário civil e o calendário religioso. O ano civil inicia-se sempre no dia primeiro de janeiro, prolongando-se até o dia trinta e um de dezembro e é dividido em doze meses.
Com o calendário católico é diferente. O ano inicia-se sempre no quarto domingo antes da Solenidade do Nascimento do Senhor e é dividido em tempos litúrgicos fundamentados no mistério de Cristo[1]. Embora tenhamos datas do calendário civil como marcantes no ano litúrgico, principalmente por causa das comemorações dos santos e santas, o tempo litúrgico é fundamental. Assim temos os tempos do Advento, Natal, Quaresma, Páscoa e Tempo Comum como as partes do ano litúrgico.
O dia do Nascimento do Senhor, vinte e cinco de dezembro, no qual celebramos o mistério da Encarnação do Verbo, que se faz carne e vem habitar entre nós (cf. Jo 1, 14), determina os tempos do Advento e do Natal. O Domingo da Páscoa, quando celebramos a ressurreição do Senhor, sua vitória sobre o pecado e a morte e a nova e eterna Aliança celebrada entre Deus e a humanidade fundamentada no mandamento do amor, determina os tempos da Quaresma e da Páscoa. O tempo restante entre o Tempo do Natal e o Tempo da Quaresma e o Tempo da Páscoa e o Tempo do Advento é chamado de Tempo Comum, que é constituído de trinta e quatro semanas.
O tempo do Advento
O tempo do Advento é dedicado à espera, com características de preparação, em duas dimensões: preparação para o Natal e espera da segunda vinda de Cristo[2]. Considera todo o mistério da vinda do Senhor na história até a sua conclusão. Vemos o Deus da história que vem para a salvação do mundo em Jesus. É também o tempo que dá grande importância à dimensão escatológica do mistério cristão, pois nos revela uma herança que acontecerá plenamente apenas no “dia do Senhor”, que acontecerá no fim dos tempos[3].
Esse tempo litúrgico convida o cristão a viver algumas atitudes essenciais à expressão evangélica da vida: a espera vigilante e jubilosa, a esperança e a conversão[4]. A espera está fundamentada na confiança nas promessas do Antigo Testamento. Essas promessas se concretizam na vinda do Messias. Para o cristão, a confiança nas promessas messiânicas é diferente da esperança do povo do Antigo Testamento, porque o Messias é o Emanuel, o Deus Conosco. As promessas se cumpriram e aguardamos a plenitude do Reino, no fim dos tempos.
A espera do cristão não se caracteriza pela passividade de quem espera algo que não depende de si como, por exemplo, alguém que está numa parada de ônibus aguardando a sua chegada e não pode fazer nada para que a espera diminua. A esperança cristã é ativa. É, por exemplo, como alguém que tem a esperança de possuir a sua casa própria, e sabe que a realização desta esperança exige muito empenho pessoal para que o sonho se torne realidade. Também nós precisamos nos empenhar para que a esperança do Reino se torne realidade, não porque Deus dependa das nossas ações, mas porque ele quis assim, nos dando a oportunidade de, como seres humanos, participarmos de uma obra divina.
A espera se concretiza na ação evangelizadora. É por meio dela que contribuímos para que todas as pessoas possam ter os mesmos sentimentos de Cristo, assumindo integralmente o Reino de Deus. Por isso, o tempo do Advento nos lembra das nossas responsabilidades diante da ação evangelizadora. É por meio da evangelização que proporcionamos às pessoas a correspondência à graça divina que possibilita o encontro pessoal com Jesus e a consequente adesão a ele.
O outro elemento importante deste tempo litúrgico, conforme vimos acima, é a conversão. A conversão é fruto do ato livre de quem é capaz de sempre reiniciar a sua vida num relacionamento íntimo com Deus. É fruto da experiência de estar enamorado com Deus sem restrição ou reservas fazendo a experiência do seu amor derramado em nossos corações e que nos leva a um novo olhar sobre a realidade: o olhar da fé que, por sua vez, nos leva a viver novos relacionamentos com as pessoas, alargando o nosso horizonte pessoal, comunitário e existencial.[5]
João Batista adverte os judeus dizendo: “Produzi fruto que mostre vossa conversão” (Mt 3, 8). O verdadeiro fruto que mostra a conversão do cristão é a participação na obra evangelizadora da Igreja, pois ela exige não apenas o anúncio das verdades da fé, mas o testemunho de vida do evangelizador que assumiu verdadeiramente os valores do Reino de Deus.  
            É por esse motivo que a Igreja no Brasil realiza durante o tempo do Advento a Campanha para a Evangelização. Ela procura dar condições a todas as pessoas para que vivam melhor, com maior profundidade e coerência, este tempo de esperança e conversão, tendo como foco o mistério do Natal, de modo que o Verbo que se encarnou por nós continue se encarnando na história da humanidade por meio do trabalho evangelizador de todos nós que somos verdadeiramente Igreja de Cristo.
            O Concílio Vaticano II sugere uma Igreja encarnada no mundo moderno como um caminho concreto para o seguimento de Jesus. A partir disso, a Igreja na América Latina deram passos decisivos para que o Evangelho fosse encarnado na América Latina. Podemos perceber isso claramente na Conferência de Medellín, apoiada na Carta Encíclica Populorum Progressio do Papa Paulo VI, e na Conferência de Puebla, apoiada na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, do mesmo pontífice.[6].
            O Documento de Santo Domingo fala sobre a necessidade da encarnação de Cristo na história: Os autênticos valores culturais, discernidos e assumidos pela fé, são necessários para encarnar nessa mesma cultura a mensagem evangélica e a reflexão e práxis da Igreja[7]. O Para João Paulo II, na Carta Encíclica Redemptoris Missio, nos ensina que “pela inculturação, a Igreja encarna o Evangelho nas diversas culturas e simultaneamente introduz os povos com as suas culturas na sua própria comunidade, transmitindo-lhes os seus próprios valores, assumindo o que de bom nelas existe, e renovando-as a partir de dentro”.[8]
            A Encarnação do Verbo nos mostra o Deus dos pobres, que se fez pobre. Por isso ação evangelizadora da Igreja deve ser feita a partir da evangélica opção preferencial pelos pobres[9]. Isto porque, para Jesus, a encarnação foi a opção pelos pobres e excluídos.[10]
            O Natal e o encontro pessoal com Jesus Cristo
            Celebrar o Natal é celebrar o mistério da Encarnação do Verbo e a sua habitação em nosso meio. A Encarnação é o evento e a verdade de fé cristã fundamental que, em certo sentido, inclui todas as outras. É o evento decisivo com o qual Deus transpôs a diferença qualitativa com a criatura e uniu-se a ela, entrando na sua vida e na sua história[11]. Deus Pai torna-se realmente acessível na pessoa do Filho, que está num relacionamento singular com o Pai, pois são um (cf. Jo 10,30).
            Celebrar verdadeiramente o Natal significa encontrar-se com Jesus e viver todas as consequências desse encontro. O Documento de Aparecida afirma que “Trata-se de confirmar, renovar e revitalizar a novidade do Evangelho arraigada em nossa história, a partir de um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, que desperte discípulos e missionários. Isso não depende de grandes programas e estruturas, mas de homens e mulheres novos que encarnem essa tradição e novidade, como discípulos de Jesus Cristo e missionários de seu reino, protagonistas de uma vida nova para uma América Latina que deseja se reconhecer com a luz e a força do Espírito”.[12]
            No Natal, nos encontramos com Jesus Cristo e este fato necessariamente nos insere na sua missão, pois, nos leva a comunicar aos outros o dom deste encontro, compartilhando esta excepcional experiência pelo anúncio e pelo testemunho.[13]
            Viver o espírito do Natal significa viver o encontro com Jesus, e essa vivência “implica necessariamente amor, gratuidade, alteridade, unidade, eclesialidade, fidelidade, perdão e reconciliação. Torna o discípulo missionário firmemente enraizado e edificado em Cristo Jesus (cf. Ef 3, 17; Cl 2, 7), à semelhança da casa que se constrói sobre a rocha (cf. Mt 7, 24-27). Assim, cada discípulo missionário, junto com toda a Igreja (...) torna-se fonte de paz, justiça, concórdia e solidariedade. (...) Implica diálogo, unidade na diversidade, partilha, compreensão, tolerância, respeito, reconciliação e, consequentemente, missão”.[14] Esses valores sempre são evidenciados no tempo do Natal.
A conversão e a iniciação à vida cristã na comunidade eclesial 
            Vimos acima que um dos principais elementos do tempo do Advento é a conversão, a partir da proposta de São João Batista. O encontro pessoal com Jesus no Natal necessariamente exige de nós conversão, conforme nos ensina o Documento de Aparecida: “A Conversão: É a resposta inicial de quem escutou o Senhor com admiração, crê n’Ele pela ação do Espírito, decide-se ser seu amigo e ir após Ele, mudando sua forma de pensar e de viver, aceitando a cruz de Cristo, consciente de que morrer para o pecado é alcançar a vida”.[15] Se fazemos do Natal a oportunidade única e excepcional para o encontro com Jesus, se contemplamos o Presépio e refletimos sobre ele à luz das Sagradas Escrituras, escutamos o Senhor com admiração, aprofundamos nossa fé e nossa vida espiritual, nos abrimos à ação do Espírito Santo e, conduzidos por este Divino Mistagogo, descobrimos novos elementos para a nossa configuração batismal a Cristo e aprofundamos o nosso processo de conversão.
            Este processo tem profundas consequências para a nossa vida eclesial, pois aumenta em nós a necessidade da vida comunitária e o senso de pertença eclesial a partir de uma renovada espiritualidade de comunhão, que “significa em primeiro lugar ter o olhar do coração voltado para o mistério da Trindade, que habita em nós e cuja luz há de ser percebida também no rosto dos irmãos que estão ao nosso redor. Espiritualidade de comunhão significa também a capacidade de sentir o irmão de fé na unidade profunda do Corpo místico, isto é, como ‘um que faz parte de mim’, para saber partilhar as suas alegrias e os seus sofrimentos, para intuir os seus anseios e dar remédio às suas necessidades, para oferecer-lhe uma verdadeira e profunda amizade. Espiritualidade de comunhão é ainda a capacidade de ver antes de mais nada o que há de positivo no outro, para acolhê-lo e valorizá-lo como dom de Deus: um ‘dom para mim’, como o é para o irmão que diretamente o recebeu. Por fim, espiritualidade da comunhão é saber ‘criar espaço’ para o irmão, levando ‘os fardos uns dos outros’ (Gl 6, 2) e rejeitando as tentações egoístas que sempre nos insidiam e geram competição, arrivismo, suspeitas, ciúmes”.[16]
            A partir disso, nós temos verdadeiramente uma iniciação à vida cristã, um corajoso assumir a dimensão eclesial da fé. “Como os primeiros cristãos, que se reuniam em comunidade, o discípulo participa na vida da Igreja e no encontro com os irmãos, vivendo o amor de Cristo na vida fraterna solidária”.[17]
            Quando o Verbo se fez carne, recebeu um corpo, conforme nos ensina a Carta aos Hebreus: “Por essa razão, ao entrar no mundo, Cristo declara: ‘Não quiseste vítima nem oferenda, mas formaste um corpo para mim. Não foram do teu agrado holocaustos nem sacrifícios pelo pecado. Então eu disse: Eis que eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade, como no livro está escrito a meu respeito’” (Hb 10, 5-7). Com isso, entendendo a Igreja como o Corpo Místico de Cristo, a vivência da dimensão eclesial nos ensina a ver no Natal, em Jesus que recebe um corpo, aquilo que nós somos. O Natal nos revela a nossa própria identidade eclesial.
Discípulos e missionários 
            O Natal nos mostra quem seguimos. É do Verbo Encarnado que somos discípulos e missionários, portanto o tempo do Advento deve ser uma oportunidade para a reflexão sobre a nossa condição de discípulos missionários de Jesus.
            O discipulado é consequência da dimensão eclesial da fé. O Documento de Aparecida afirma que “A vocação ao discipulado missionário é convocação à comunhão em sua Igreja. Não há discipulado sem comunhão. Diante da tentação, muito presente na cultura atual de ser cristãos sem Igreja e das novas buscas espirituais individualistas, afirmamos que a fé em Jesus Cristo nos chegou através da comunidade eclesial e ela ‘nos dá uma família, a família universal de Deus na Igreja Católica. A fé nos liberta do isolamento do eu, porque nos conduz à comunhão’. Isto significa que uma dimensão constitutiva do acontecimento cristão é o fato de pertencer a uma comunidade concreta na qual podemos viver uma experiência permanente de discipulado e de comunhão com os sucessores dos Apóstolos e com o Papa.[18]
            Ninguém isoladamente é Igreja, de modo que ninguém isoladamente é discípulo missionário de Jesus. É o próprio Jesus quem nos mostra isso nos evangelhos. Jesus chama as pessoas para fazerem parte de um grupo (cf. Mt 4, 18 a 22), que são os seus discípulos e dentre eles, escolhe os apóstolos (cf. Lc 6, 12-16) em número de doze, para mostrar que a Igreja substitui as doze tribos de Israel, formando o povo da Nova Aliança. Este é o povo dos discípulos e missionários de Jesus.
            No discipulado, “a pessoa amadurece constantemente no conhecimento, amor e seguimento de Jesus Mestre, aprofunda no mistério de sua pessoa, de seu exemplo e de sua doutrina. Para isso são de fundamental importância a catequese permanente e a vida sacramental, que fortalecem a conversão inicial e permitem que os discípulos missionários possam perseverar na vida cristã e na missão em meio ao mundo que nos desafia”.[19]
            É a prática do discipulado que nos faz crescer e amadurecer na fé. Aprendendo com o próprio Mestre, desenvolvemos os talentos que nos foram dados e, apoiados na graça divina, adquirimos as condições necessárias para que possamos assumir de forma cada vez mais perfeita a dimensão missionária da nossa fé.
            Os bispos do Brasil afirmam que a Igreja encontra-se em estado permanente de missão. “Não se trata, portanto, de conceber a atitude missionária ao lado de outros serviços ou atividades, mas de dar a tudo o que se faz um sentido missionário, estabelecendo, neste conjunto de atividades desenvolvidas, algumas urgências que ajudem todos os batizados a efetivamente se reconhecerem como missionários”.[20] Os bispos do Brasil têm muita razão para tal afirmação, pois estão fundamentados nos documentos do Magistério Universal que vem desde o Concílio Vaticano II.
            De fato, o Concílio Vaticano II, no seu Decreto Ad Gentes sobre a atividade missionária da Igreja, afirma que “a Igreja deve estar presente em todos esses grupos humanos por intermédio de seus filhos que aí vêm ou para onde são enviados. Onde quer que vivam, pelo exemplo da vida e pelo testemunho da palavra, todos os fiéis devem manifestar a nova humanidade com que foram vestidos no batismo, e a força do Espírito Santo, que receberam na confirmação. Considerando suas boas obras, os demais se sentirão inclinados a glorificar ao Pai perceberão melhor o sentido da vida e descobrirão a importância do vínculo de comunhão de que todos os seres humanos são chamados a participar”.[21]
            O texto fala em todos os fiéis, de modos que todos os batizados são missionários e a participação de todos na missão é um dever e um direito. É um dever porque são membros da Igreja e devem assumir suas responsabilidades. É um direito porque, configurados a Cristo, participam do seu tríplice múnus, embora cada um ao seu modo, segundo a sua condição eclesial.
            Esta missão da Igreja que exercemos também é evidenciada pelo Papa Paulo VI na Exortação Apostólica Pós Sinodal Evangelii Nuntiandi: “O fato de a Igreja ser enviada e mandada para a evangelização do mundo, é uma observação que deveria despertar em nós uma dupla convicção. A primeira é a seguinte: evangelizar não é para quem quer que seja um ato individual e isolado, mas profundamente eclesial. Assim, quando o mais obscuro dos pregadores, dos catequistas ou dos pastores, no rincão mais remoto, prega o Evangelho, reúne a sua pequena comunidade, ou administra um sacramento, mesmo sozinho, ele perfaz um ato de Igreja (...). a segunda convicção: se cada um evangeliza em nome da Igreja o que ela mesma faz em virtude de um mandato do Senhor, nenhum evangelizador é o senhor absoluto de sua ação evangelizadora, dotado de um poder discricionário para realizar segundo critérios e perspectivas individualistas tal obra, mas em comunhão com a Igreja e com seus pastores”.[22]
            Esta tradição conciliar da missão encontra sua continuidade na Carta Encíclica Redemptoris Missio, do Papa João Paulo II, que diz: “Membros da Igreja, por força do batismo, todos os cristãos são corresponsáveis pela atividade missionária. A participação das comunidades e dos indivíduos cristãos, sente direito-dever, é chamada ‘cooperação missionária’” [23]. Esta ação não pode prescindir do laicato, conforme diz o mesmo Papa na Exortação Apostólica Pós Sinodal Christidideles Laici: “A Igreja, ao perceber e ao viver a urgência atual de uma nova evangelização, não pode eximir-se da missão permanente de levar o Evangelho a quantos – e são milhões e milhões de homens e mulheres – não conhecem ainda Cristo, Redentor do homem. Esta é a tarefa mais especificamente missionária que Jesus confiou e continua todos os dias a confiar à sua Igreja. A ação dos fiéis leigos, que, aliás, nunca faltou neste campo, aparece hoje cada vez mais necessária e preciosa”.[24]
            Tudo isso nos mostra que os bispos do Brasil, ao apresentarem o estado permanente de missão como uma urgência na ação evangelizadora da Igreja, estão plenamente de acordo com a tradição conciliar e com o Magistério Pontifício. E assim fica evidenciada a questão do discipulado e da missionariedade como consequência do processo de conversão de todo aquele que faz a experiência do encontro pessoal com Jesus. Através da Campanha para a Evangelização, a Igreja no Brasil quer fazer dos tempos do Advento e do Natal uma oportunidade excepcional para alavancar esta experiência.
Participação ativa na obra evangelizadora da Igreja 
            Toda esta discussão não pode ser apenas teórica. Deve, na verdade, criar nova mentalidade e novo comportamento nos cristãos, e este e o principal objetivo da Campanha para a Evangelização que a CNBB realiza todos os anos. Assim, toda a Igreja deve animar a Campanha da Evangelização no sentido de despertar a corresponsabilidade de todos para a obra evangelizadora, de modo que as suas necessidades sejam assumidas solidariamente por todos os que pertencem à Igreja Católica.
            A Campanha para a Evangelização procura despertar em todos os cristãos a consciência de que, unidos a Cristo pela graça batismal, participam da missão evangelizadora da Igreja. Este trabalho de conscientização procura motivar todos os fiéis para a participação ativa na missão evangelizadora da Igreja através de três caminhos: o testemunho, as ações pastorais específicas e a garantia de recursos materiais para o trabalho evangelizador.
            O primeiro deles é o testemunho de vida. O Papa Paulo VI afirmou que: “’O homem contemporâneo escuta com maior boa vontade as testemunhas do que os mestres (...) ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas’. São Pedro exprimia isso muito bem, quando ele evocava o espetáculo da vida pura e respeitável, ‘para que, se alguns não obedecem à Palavra, venham a ser conquistados sem palavras, pelo procedimento (cf. 1Pd 3, 1). Será pois, pelo seu comportamento, pela sua vida, que a Igreja há de, antes de mais nada, evangelizar o mundo; ou seja, pelo testemunho vivido com fidelidade ao Senhor Jesus, testemunho de pobreza, de desapego e de liberdade frente aos poderes deste mundo; numa palavra, testemunho de santidade”.[25] O Papa João Paulo II reforça esta idéia ao afirmar que “o testemunho da vida cristã é a primeira e insubstituível forma de missão: Cristo, cuja missão nós continuamos, é a ‘testemunha’ por excelência (Ap 1, 5; 3, 14) e o modelo do testemunho cristão. O Espírito Santo acompanha o caminho da Igreja, associando-a ao testemunho que ele próprio dá de Cristo (cf. Jo 15, 26-27)”.[26]
            Os bispos do Brasil afirmam que “emerge, em primeiro lugar, o papel de cada pessoa batizada em todos os lugares e situações em que se encontrar. Trata-se do testemunho pessoal, base sobre a qual o explícito anúncio haverá de ser construído”.[27]
            O critério para o testemunho é o novo mandamento de Jesus: “Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 34-35). Amar como Jesus amou significa amor afetivo e efetivo, ser capaz de unir os sentimentos ao próprio agir. O mundo irá nos reconhecer como discípulos de Jesus apenas quando formos capazes de viver o amor conforme o Mestre viveu, dando testemunho, assim, da veracidade do seu mandamento. É por isso que os bispos afirmam: “É pelo amor-serviço à vida que o discípulo
missionário haverá de pautar seu testemunho, numa Igreja que segue os passos de Jesus, adotando sua atitude”. [28]
            Porém, se afirmamos que o testemunho é de fundamental importância, também é necessária a afirmação de que ele, por si só, é insuficiente. É por isso que a Campanha para a Evangelização fala de um segundo caminho: as ações pastorais específicas. Quando falamos em pastoral, não estamos falando simplesmente de trabalhos concretos que os fiéis executam na Igreja. A pastoral é o agir da Igreja, portanto é o próprio Jesus Cristo, o Bom Pastor, que cuida do seu rebanho a partir do seu Corpo Místico, cumprindo a promessas feita por Deus pela boca do Profeta Jeremias: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com inteligência e sabedoria”, (Jr 3, 16) e também pela boca do Profeta Ezequiel: “Pois eis o que diz o Senhor Javé: vou tomar eu próprio o cuidado com minhas ovelhas, velarei sobre elas. Como o pastor se inquieta por causa de seu rebanho, quando se acha no meio de suas ovelhas tresmalhadas, assim me inquietarei por causa do meu; eu o reconduzirei de todos os lugares por onde tinha sido disperso num dia de nuvens e de trevas. Eu as recolherei dentre os povos e as reunirei de diversos países, para reconduzi-las ao seu próprio solo e fazê-las pastar nos montes de Israel, nos vales e nos lugares habitados da região. Eu as apascentarei em boas pastagens, elas serão levadas a gordos campos sobre as montanhas de Israel; elas repousarão sobre as verdes relvas, terão sobre os montes de Israel abundantes pastagens. Sou eu que apascentarei minhas ovelhas, sou eu que as farei repousar - oráculo do Senhor Javé” (Ez 34, 11-15). Jesus é o Bom Pastor que cuida do rebanho e não é salteador nem mercenário, pois dá a vida pelas ovelhas (cf. Jo 10, 1-15), por isso ele é o Pastor segundo o coração de Deus e, nele, também nós o somos. Sendo verdadeiro Deus, realiza a profecia de Ez 34, e nós, como seu Corpo Místico, agindo por Ele e n´Ele, participamos da obra divina do pastoreio, de modo que Deus, por meio da ação da Igreja, continua, hoje e sempre, pastoreando o seu rebanho.
            A ação pastoral não se trata apenas de um serviço, e o Evangelho nos mostra isso. Um dia, Jesus afirmou aos discípulos que depois que fizerem tudo o que deveriam fazer, deveriam dizer que eram servos inúteis (cf. Lc 17, 10). Porém, depois da última ceia, Jesus disse aos discípulos que não mais os chamava de servos, mas de amigos, porque lhes havia dado a conhecer tudo quando tinha ouvido do Pai (cf. Jo 15, 14-15).
            A ação pastoral, portanto, não se trata de fazer alguma coisa, mas viver a amizade com Jesus, participar ativamente do projeto do Reino de Deus, agir em Jesus Cristo.
            Com isso, a Campanha para a Evangelização mostra que tem por objetivo não simplesmente chamar para o trabalho, mas explicitar os fundamentos deste chamado para que o trabalho não seja simplesmente o exercício de alguma atividade, mas seja principalmente um agir que expressa a relação amorosa com o próprio Deus e a participação no projeto do Reino a partir de uma íntima comunhão de vida e de valores.
            O terceiro caminho que aparece no objetivo para a participação ativa na obra evangelizadora da Igreja é a garantia de recursos materiais para o trabalho evangelizador.
            Vivemos num país de dimensões continentais com uma grande diversidade, inclusive no que diz respeito à ação eclesial e garantir uma pastoral de conjunto nesta realidade é uma tarefa complexa e desafiadora, e muito se tem feito, desde a fundação da CNBB há sessenta anos, para que este objetivo possa ser atingido.
            Este trabalho exige, além de muita oração e empenho, uma estrutura de trabalho muito complexa e uma infraestrutura que possibilite a sua realização, que, além de prédios e equipamentos adequados, exigem um número muito grande de pessoas com dedicação exclusiva e o custeio de suas atividades.
            Apesar de sermos uma das maiores economias do mundo, a injustiça social faz com que a maior parte dos recursos do nosso país fique nas mãos de poucos, que não contribuem com a obra evangelizadora, e isso faz com que não tenhamos os recursos necessários para que possamos realizar a contento a nossa missão.
            A Campanha para a Evangelização procura despertar nos fiéis a consciência dessa situação e pedir a sua contribuição para que os recursos não faltem. É importante afirmar que TEMOS DEIXADO DE FAZER MUITAS COISAS QUE SÃO NECESSÁRIAS E INDISPENSÁVEIS POR ABSOLUTA FALTA DE RECURSOS FINANCEIROS. Ainda dependemos da ajuda de entidades de países europeus como é o caso da ADVENIAT e da MISEREOR, mas os recursos dessas entidades também estão diminuindo. Nos últimos anos, muitas atividades evangelizadoras de grande relevância não puderam ser executadas.
            É claro que essa realidade, antes de tudo, deve onerar a consciência de todos os que têm fé, principalmente porque a Igreja Católica, em termos percentuais, é a Igreja que menos recebe dos seus membros. Muitos católicos não participam da obra evangelizadora da Igreja, seja pelo testemunho, seja pelas ações pastorais específicas, seja pela garantia dos recursos necessários para o trabalho evangelizador. Por isso, a realização da Campanha para a Evangelização no tempo do Advento se torna cada vez mais uma prioridade para a Igreja no Brasil, e todos os batizados, que pertencem ao povo de Deus, devem entender isso e assumirem suas responsabilidades.
Nós vimos e damos testemunho 
            A festa do Natal é para nós uma grande oportunidade para o encontro pessoal com Jesus, e esse encontro deve produzir profundas mudanças em nós. Ver Jesus é uma experiência única, que não pode diminuir ou perder o seu significado nem ser minimizada nos seus frutos.
            A Sagrada Escritura está repleta de exemplos de pessoas que se encontraram com Jesus e tornaram-se suas testemunhas. Como exemplo, podemos citar João Batista que viu e deu testemunho que Jesus é o Filho de Deus (cf. Jo 1, 15-19.34). Os apóstolos fizeram a experiência da vida com Jesus e se tornaram suas testemunhas (cf. Lc 24, 45-48). Os discípulos de Emaús fazem a experiência do encontro com Jesus ao partir o pão e, imediatamente, voltam a Jerusalém para relatar o acontecido (cf. Lc 24, 13-24). Até mesmo o Centurião, que era pagão, ao encontrar-se com Jesus no alto da cruz e ver a sua morte, testemunha que ele é verdadeiramente o Filho de Deus (cf. Mc 15, 39).
            Mas o exemplo que mais nos impressiona, sem dúvida, é a experiência de São Paulo no caminho de Damasco. Ele faz a experiência do encontro pessoal com Jesus e se transforma de perseguidor ao grande apóstolo dos gentios, que testemunha o Nome de Jesus diante das nações (cf. At 9, 1-15).
            A história da Igreja também está repleta de exemplos de grandes santos que realizaram a experiência do encontro pessoal com Jesus e tornaram-se suas testemunhas diante do mundo. Um exemplo conhecido de todos nós é São Francisco de Assis e a experiência da Porciúncula, tão marcante para a vida da Igreja até os nossos dias. Também é impressionante na vida de São Francisco de Assis a admiração pelo Deus Menino no Presépio. Podemos citar também os grandes convertidos que se tornaram grandes místicos e evangelizadores, como é o caso de Santo Agostinho e Santo Inácio de Loyola.
            Temos ainda os grandes nomes das contemplações que viveram a experiência do encontro pessoal íntimo e profundo com Jesus e nos garantiram um legado maravilhoso dessa experiência nos seus escritos de profunda vida espiritual e intimidade com Deus, como, por exemplo, Santa Tereza de Jesus, São João da Cruz, Santa Terezinha do Menino Jesus e Santa Edith Stein. Ainda temos aqueles que viram Jesus no sofrimento humano e o testemunharam em grandes obras em favor dos sofridos do seu tempo e que se prolongaram pela história, como é o caso de São Vicente de Paula, Frederico Ozanan, Dom Bosco, Madre Tereza de Calcutá e Irmã Dulce e muitos mais.
            Nós continuamos a história da Igreja hoje. Nós somos as testemunhas de Jesus hoje e não podemos nos eximir da nossa responsabilidade histórica e eclesial. Precisamos superar o “medíocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas, na verdade, a fé vai se desgastando e degenerando em mesquinhez”.[29] Decididamente, precisamos testemunhar aquele que vimos.
Todos precisam ver Jesus 
            Todos nós sabemos que a realidade atual está repleta de problemas, e que cada vez mais temos a impressão de que são insuperáveis. As pessoas colocaram a solução dos problemas nas ciências e no progresso e hoje estão desiludidas. O motivo principal é que a ciência e a tecnologia podem avançar na solução de muitos problemas, mas não podem responder à principal pergunta do ser humano: Qual o sentido da vida?
            A resposta a esta questão fundamental está na pessoa de Jesus e no conhecimento da sua mensagem. É por isso que os bispos afirmam: “a fé cristã é, antes de tudo, adesão pessoal à pessoa de Jesus Cristo e ao seu Evangelho, acolhida do dom gratuito que vem de Deus. É a pessoa o sujeito de toda a realidade que a circunda, o ser capaz de descobrir seu sentido e governá-la (Gn 2,20)”.[30]
            As pessoas dificilmente percebem esta questão e, por isso, não vivem bem. Procuram a felicidade em coisas e não no sentido da vida. “É difícil encontrar uma pessoa plenamente satisfeita. Mesmo as mais bem-sucedidas têm planos para o futuro. A felicidade não é um estado definitivo; ao contrário, é um anseio que sempre se renova”.[31] E na medida em que o sentido da vida se aprofunda, o anseio pela felicidade também, de modo que a felicidade passa a ser construída, sempre na busca da satisfação de necessidades e desenvolvimento de potencialidades.
            Voltamos à pergunta: qual o sentido da vida? A partir desta pergunta, decorre outra: quais são as verdadeiras necessidades e as reais potencialidades que nos ajudam a construir a vida segundo seu verdadeiro significado?
            As Sagradas escrituras nos ajudam na reflexão sobre esta questão. Assim está escrito no Livro do Gênesis: Então Deus disse: “‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra.’. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher” (Gn 1, 26-27). Logo em seguida, o mesmo Livro diz: “O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente” (Gn 2, 7).
            Algumas palavras merecem destaque nos textos citados: “nossa imagem e semelhança”, “que ele reine”, “do barro da terra” e “sopro de vida”. Sendo criado à imagem e semelhança de Deus, o ser humano só encontra o verdadeiro sentido da vida no próprio Deus e na vida divina que lhe é dada pelo mistério da Encarnação e, por isso, ele reina, mas o seu reinado deve acontecer a partir do seu modelo de rei, que é o próprio Deus, que é todo-poderoso no amor e reina amorosamente. O ser humano é um ser de natureza, criado do barro da terra, e deve buscar a sua realização natural, mas não pode limitar a sua realização a este plano, pois é um ser vivente a partir do sopro de vida recebido do próprio Deus, que não o quer satisfeito apenas como ser vivente natural, mas como ser vivente que participa da sua própria vida.
            Tudo isso nos mostra que o verdadeiro sentido da vida existe única e exclusivamente em Deus e que, sem ele, não há realização plena para o ser humano. O relacionamento com Deus possibilita ao ser humano descobrir o verdadeiro sentido da vida que torna possível a sua realização tanto como ser de natureza como na sua transcendência à realidade natural.
            Jesus Cristo nos revela o Pai e, ao mesmo tempo, a nossa condição humana, pois “Ele é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda a criação” (Cl 1, 15). Sendo assim, Jesus é a verdadeira fonte para que todos possam descobrir o sentido da vida, pois nos revela o Pai, é a imagem do Pai e quem o vê, vê o Pai (cf. Jo 14,9), Jesus é o ícone do Pai.
            Para descobrir o verdadeiro sentido da vida e ter a felicidade completa, todos precisam ver Jesus. Nós vimos e damos testemunho, mas este testemunho deve ser perfeito. Por isso, assim como Jesus disse: “Quem me viu, viu o Pai”, nosso testemunho de vida deve ser tal que possamos dizer: “quem me vê, vê Jesus”, nos tornando ícones vivos de Jesus, pois todos precisam ver Jesus e nós somos a sua imagem viva no mundo de hoje, somos o seu Corpo Místico.
            Todos precisam ver Jesus para descobrir o verdadeiro sentido da vida, o caminho da felicidade, a verdade que liberta e a vida em plenitude. Todos precisam ser evangelizados para se encontrarem verdadeiramente com Jesus, trilhar os caminhos da conversão, assumirem a identidade eclesial, tornarem-se discípulos e missionários e contribuírem para a superação dos graves problemas que marcam o nosso tempo.
            Precisamos fazer deste Natal uma oportunidade para que as pessoas não vejam simplesmente uma criança pobrezinha que nasceu em Belém e está sobre a manjedoura dos nossos presépios. Precisamos fazer com que este Natal seja, a partir do trabalho evangelizador, uma oportunidade para que todos vejam Jesus, pois o mundo precisa ver Jesus para se tornar, cada vez mais, Reino de Deus na história.
Conclusão 
            O advento é tempo rico e significativo na vida e na espiritualidade das comunidades cristãs como celebração do Verbo que se encarnou e se fez solidário com as alegrias, sofrimentos, pecados e esperanças da humanidade.
            As comunidades e as famílias se preparam para a festa do Natal por meio de novenas, orações em grupo, meditação da Palavra de Deus e gestos de solidariedade e caridade para com os mais pobres para acolher e vivenciar a Boa Nova da presença e manifestação do Filho de Deus que veio trazer vida em abundância para todos.
            Advento é tempo de espera. Espera de dias melhores e de mais justiça e paz, de mais liberdade e igualdade. Esta espera foi o sonho do povo do Antigo Testamento. A chegada do Messias deveria trazer a realização desse sonho. Os profetas denunciaram as injustiças e a escravidão e colocavam na vinda do Messias a esperança da libertação e da salvação para todos.
            Mas a vinda do Messias não resolveria os problemas do povo de forma mágica e milagrosa. Exigia empenho e compromisso de todos. Postulava a mudança de vida. Comportava a conversão do coração e a abertura para a partilha, a quebra do egoísmo e do individualismo. Saída da autossuficiência. Supunha a penitência e a oração.
            A preparação do povo para a chegada do Messias foi o compromisso de profetas e das lideranças, pela pregação, pelo exemplo de vida e por meio de gestos de despojamento.
O         nascimento de Jesus Cristo é celebrado todos os dias pelos cristãos. No advento a cuidadosa preparação e as celebrações ajudem a reviver a Palavra dos profetas, a entrar na atitude e na proposta de João Batista e a acolher no Silêncio e na oração o Sim de Maria, mãe de Jesus.
            A liturgia desse tempo é cheia de símbolos eclesiais e tem um caminho que conduz para a celebração da chegada do Messias, no coração dos fiéis. Nada poderá substituir essa liturgia.
            Advento é tempo de evangelização nas comunidades. Cultiva-se a chegada do Messias, Filho de Deus, em seu projeto de vida nova, liberdade, partilha e fraternidade.
            O projeto de Jesus exige conversão. Implica em penitência e oração. Propõe a partilha das túnicas e dos pratos de comida para que se restabeleça a justiça e se manifeste a presença libertadora do Messias. O livro dos Atos dos Apóstolos nos dá um exemplo: "Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações. Apossava-se de todos o temor, pois numerosos eram os prodígios e sinais que se realizavam por meio dos apóstolos. Todos os que tinham abraçado a fé reuniam-se e punham tudo em comum: vendiam suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos, segundo as necessidades de cada um. Dia após dia, unânimes, mostravam-se assíduos no Templo e partiam o pão pelas casas, tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e gozavam da simpatia de todo o povo. E o Senhor acrescentava cada dia ao seu número os que seriam salvos." (At 2, 43-47).
            Todo cristão, pela graça do sacramento do Batismo, está intimamente unido a Cristo e pertence à Igreja, que é o Corpo Místico de Cristo. Como Igreja, tem a missão de anunciar e testemunhar Jesus Cristo. Para a realização desta missão, todos nós, discípulos missionários de Jesus, devemos colaborar não só com o testemunho pessoal e comunitário e ações específicas para a evangelização por meio das pastorais, mas também garantindo os recursos materiais que são necessários para a ação evangelizadora da Igreja.
            No advento a Igreja vive a experiência de evangelização e a concretização do Reino, Reino anunciado por Jesus.
            A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil realizou a sua 35ª Assembléia Geral, no ano de 1997 em Itaicí, São Paulo e nesta Assembléia aprovou a realização de uma Campanha para a Evangelização em nível nacional. Esta campanha deve acontecer conforme os modelos do Adveniat e da Misereor, na Alemanha, Kirche in Not na Bélgica e CAFOD na Inglaterra, que angariam recursos não só para a evangelização dos seus próprios países, mas também para auxiliar projetos evangelizadores nos países mais pobres, entre os quais contamos o Brasil.
            A Campanha da Evangelização teve o seu início e 1998 e realiza-se a partir do Domingo de Cristo Rei, prolongando-se no tempo do Advento, sendo que a coleta nacional para a evangelização acontece no 3° Domingo deste tempo litúrgico.
            O valor angariado pela coleta nacional para a evangelização constitui o Fundo para a Evangelização a nível diocesano, Regional e Nacional. O Fundo para a evangelização a nível nacional é administrado pela CNBB e é destinado a apoiar as estruturas da Igreja e a atividade evangelizadora a nível diocesano, regional e nacional. Este Fundo para a Evangelização substitui as contribuições da Campanha da Fraternidade para a CNBB e para os Regionais
            Assim, toda a Igreja deve animar a Campanha da Evangelização no sentido de despertar a corresponsabilidade de todos para a obra evangelizadora, de modo que as suas necessidades sejam assumidas solidariamente por todos os que pertencem à Igreja Católica.
            Para que a Igreja possa realizar a obra evangelizadora, uma estrutura administrativa faz-se necessária. Esta estrutura tem por finalidade articular as ações evangelizadoras de modo que garanta a organicidade do Corpo Místico de Cristo. Temos as Arquidioceses, Dioceses e Prelazias, que são constituídas por Paróquias e comunidades de fiéis, onde de fato a ação evangelizadora acontece e que são a referência mais concreta da Igreja para o povo de Deus.
            Mas como o Brasil é um país muito grande e apresenta um elevado grau de diversidade na sua realidade, faz-se necessária uma instância intermediária para que se respeitem as características das diversas regiões sem, contudo, perder a unidade nacional. Esta instância é o Regional da CNBB. No total, são 17 Regionais, alguns coincidindo com os Estados da Federação, outros com agrupamento de dois ou mais Estados, que estão em íntima coordenação com a CNBB nacional e prestam serviço às Dioceses que estão presentes na sua área territorial, através da coordenação e acompanhamento das pastorais, prestação de serviço de assessoria e promoção de assembléias e encontros a nível regional.
            No Brasil, quem tem a responsabilidade de garantir a articulação das ações evangelizadoras a nível nacional é a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB. Esta articulação é dada basicamente pelas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil que estabelece o objetivo geral desta ação evangelizadora. A CNBB elabora Planos Bienais, Projetos (como por exemplo o Projeto Rumo ao Novo Milênio e o Projeto Ser Igreja no Novo Milênio, Queremos Ver Jesus Caminho, Verdade e Vida e Missão Continental), coordena e acompanha as pastorais a nível nacional e presta serviço de assessoria aos Regionais e Dioceses que o solicitam, além de promover assembléias e encontros a nível nacional.
            Toda esta estrutura é necessária para que a Igreja do Brasil possa viver em comunhão e articular a sua ação evangelizadora. Mas ela implica em estruturas, pessoas (Bispos, Presbíteros, Religiosos e Religiosas, Diáconos, Leigos e Leigas) e recursos financeiros que garantam o seu custeio.
            Na oração, na conversão, na contribuição livre e responsável, no silêncio da espera do Messias, a comunidade torna-se evangelizadora e anunciadora da Boa Notícia da chegada do Reino.
A coleta promovida pelas dioceses e pela CNBB é de fato colheita dos frutos amadurecidos no advento para serem colocados em comum e a serviço da evangelização, da Boa Notícia da chegada do reino no hoje da vida do povo brasileiro.
            “Eu vi e dou testemunho: ele é o Filho de Deus (Jo 1, 34). Através deste lema, a Campanha da Evangelização quer, em íntima união com as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, colaborar para que todos descubram a missão evangelizadora como um dos elementos mais importantes da identidade eclesial.
Bibliografia
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VVAA. Dicionário de Liturgia. São Paulo: Paulinas, 1992, 1293 p.

[1] Cf. BERGAMINI, A. Ano Litúrginco, in VVAA. Dicionário de Liturgia, p. 58-63.
[2] Cf. Normas Universais do Ano Litúrgico e Calendário Romano Geral, n.o 39 in CNBB, Introdução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário, p. 172-173.
[3] Cf. BERGAMINI, A. Advento, in VVAA. Dicionário de Liturgia, p. 12-14.
[4] Cf. Ibidem.
[5] Cf. CARO, Olga Consuelo Vélez. Pressupostos epistemológicos para uma visão de sujeito integral in RUBIO, Alfonso Garcia (org.). O humano Integrado, p. 108-112.
[6] Cf. SOARES, A. M. L. (org.) Dialogando com Jon Sobrino, p. 65
[7] CELAM, Documento de Santo Domingo, n.o 229.
[8] JOÃO PAULO II, Carta Encíclica Redemptoris Missio n.o 52
[9] Cf. CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil – Doc. 94, p. 9.
[10] Cf. SOBRINO, J. Jesus na América Latina; seu significado para a fé e a cristologia. São Paulo/Petrópolis: Loyola/Vozes, 1985, p. 199.
[11] Cf. IAMMARRONE, G. Encarnação, in VVAA. Dicionário Teológico Enciclopédico, p. 232-233.
[12] CELAM, Documento de Aparecida, n.o 11.
[13] Cf. Ibidem, n.o 145
[14] CNBB, Diretrizes Gerais... n.o 16.
[15] CELAM, Documento de Aparecida, n.o 278, b.
[16] JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte n.o 43.
[17] CELAM, Documento de Aparecida, n.o 278, d.
[18] Ibidem, n.o 156.
[19] Ibidem, n.o 278 c.
[20] CNBB, Diretrizes Gerais... n.o 35.
[21] Decreto Ad Gentes sobre a ação missionária da Igreja, do Concílio Ecumênico Vaticano II n.o 11 in COSTA, L. (org.) Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II.
[22] PAULO VI, Exortação Apostólica Pós Sinodal Evangelii Nuntiandi, n.o 60
[23] JOÃO PAULO II, Carta Encíclica Redemptoris Missio, n.o 77
[24] Idem, Exortação Apostólica Pós Sinodal Christifideles Laici, n.o 35.
[25] PAULO VI, Exortação Apostólica Pós Sinodal Evangelii Nuntiandi, n.o 41.
[26] JOÃO PAULO II, Carta Encíclica Redemptoris Missio n.o 42.
[27] CNBB, Diretrizes Gerais... n.o 33.
[28] CELAM, Documento de Aparecida, n.o 31.
[29] CNBB, Diretrizes Gerais... n.º 4, CELAM, Documento de Aparecida, n.º n. 12, citando: RATZINGER, J. Situação atual da fé e da teologia. Conferência pronunciada no Encontro de Presidentes de Comissões Episcopais da América Latina na para a Doutrina da fé, celebrado em Guadalajara, México, 1996. Publicado em L’Osservatore Romano, em 1º de novembro de 1996.
[30]  CNBB, Diretrizes Gerais... n.o 130, a.
[31]  BENINCÁ, E. e BALBINOT, R., Metodologia Pastoral, p.63.